Já aqui tenho escrito, a propósito dos benefícios que Portugal ainda não retira do reforço conseguido nas qualificações da sua população, sobre a dificuldade de transformar conhecimento em coesão, crescimento económico, mais e melhores empregos.
Também já apontei diversos problemas específicos do nosso país, em particular a inexistência de um verdadeiro ecossistema favorável à inovação. Problemas que não se ultrapassam apenas com incentivos diretos ao empreendedorismo e à contratação de quadros altamente qualificados, porque na sua raiz têm questões de fundo como uma fiscalidade pesada e muitas vezes imprevisível, uma justiça lenta e uma carga burocrática que chega a ser opressiva para quem quer arriscar.
Contudo, mesmo nas economias mais dinâmicas da União Europeia, existem dificuldades e ineficiências no processo de conversão do conhecimento que é gerado nas universidades e nos centros de investigação em produtos e serviços capazes de gerar crescimento económico e melhorar as vidas das pessoas. Em parte, porque, ao nível das políticas comuns da União, continua a faltar um elo fundamental nessa cadeia.
Temos, desde há relativamente pouco tempo, um Espaço Europeu de Educação. E temos, há mais de 20 anos, Um Espaço Europeu da Investigação, que tem na sua matriz as componentes da Investigação Científica e da Inovação, mas que se tem revelado bastante mais eficaz na primeira destas vertentes. Há muito que as partes interessadas - investigadores, empresários, empreendedores, organizações da sociedade civil - vêm pedindo a criação de um verdadeiro Espaço Europeu de Inovação, que sirva essa função de levar o conhecimento à economia e à sociedade.
Esta é uma necessidade particularmente notória nos nossos tempos, em que o processo que vai desde a chamada ciência fundamental até ao resultado final, ao produto, está extremamente acelerado e por vezes ocorre sem cumprir as etapas tradicionais. As novas tecnologias, da computação quântica à robótica e à ciência dos dados, são talvez o exemplo mais evidente do que falo.
Num mundo extremamente competitivo, não basta ter as ideias e a competência, como a Europa tem. É necessário dominar os processos que lhes darão a escala necessária para produzirem resultados práticos antes dos concorrentes.
O chamado triângulo do conhecimento - Educação, Ciência e Inovação - está presente num instrumento muito específico do programa-quadro Horizonte Europa, o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, ao qual tenho estado ligada desde a sua criação e de cuja agenda estratégica fui relatora na presente legislatura. Mas a abordagem integrada das três vertentes do conhecimento, tal como é feita por este instituto, continua a ser a exceção à regra nas políticas europeias de Ciência e Inovação.
Nesta última semana, no Parlamento Europeu, decorreu a primeira cimeira do Espaço Europeu de Inovação (EEI), promovida pela rede Knowledge for Innovation (K4I), a cujo fórum presido. O título do evento foi, em si mesmo um desafio à Comissão Europeia, lançado dias antes de ser anunciada aquela que será a próxima agenda de Inovação da UE.
Ao longo dos vários dias deste evento, contámos com intervenções da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e da própria comissária europeia para a para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, Mariya Gabriel. A presença destas acabou pelo ser mais um sinal da importância que o tema tem na Europa nesta fase.
Mariya Gabriel não prometeu a criação da EIA. Mas deixou claro que a Comissão Europeia está bem atenta às aspirações dos diferentes atores ligados à inovação, nomeadamente os membros da rede K4I, deixando um apelo a contributos e propostas concretas nesta área.
Pessoalmente, estou convencida de que, mais cedo ou mais tarde, teremos mesmo um Espaço Europeu de Inovação. É o que nos está a ser pedido pela sociedade. E é o que faz sentido. Só libertando todo o poder da inovação seremos capazes de alcançar os objetivos que assumimos. Desde logo os objetivos de combate às alterações climáticas e de transição energética.