Ao contrário dos combustíveis fósseis, que só podem ser encontrados em certos locais, as energias renováveis encontram-se distribuídas "democrativamente" por todos os países.
Usando a tecnologia apropriada qualquer edifício pode recolher, armazenar e produzir energia suficiente para o seu próprio consumo e para partilhar com os outros consumidores. Graças, mais uma vez, ao desenvolvimento tecnológico, a rede de distribuição pode ser aperfeiçoada de forma a permitir que cada lar compre ou venda energia à rede com a mesma facilidade e transparência com que é produzida e partilhada a informação na internet.
Basicamente é nisto que consiste a terceira revolução industrial: energias renováveis, edifícios autosuficientes, armazenamento de energia em pilhas de hidrogénio e uma rede inteligente de distribuição e partilha de energia. É razoável esperar que este fenómeno venha a ter, na primeira metade do século 21, um impacto económico tão poderoso como o tiveram a primeira e a segunda revoluções industriais ocorridas, respectivamente, nos séculos 19 e 20.
Em todas as sociedades a energia é uma das fontes principais de riqueza. A produção de energia e a forma como é distribuída acabam por determinar a forma de distribuição da riqueza. Por isso, na Europa, a terceira revolução industrial representa a oportunidade de renovar o seu modelo de desenvolvimento social e de crescimento económico. Como aconteceu nas anteriores, esta revolução industrial criará um grande número de novos postos de trabalho e permitirá reforçar a competitividade da indústria europeia.
Barak Obama reconheceu as virtualidades deste desenvolvimento tecnológico. Recentemente, no seu discurso sobre o Estado da União, exortou a nação americana a reafirmar a sua liderança no mundo através duma aposta forte e corajosa na inovação centrada, sobretudo, no desenvolvimento das tecnologias de produção de energia limpa e renovável. Para o Presidente americano este repto, enunciado no rescaldo da grave crise financeira que assolou a economia americana, é comparável ao desafio lançado pelo Presidente Kennedy à geração americana do pós-guerra para que aquela se mobilizasse a colocar um homem na Lua. Obama sabe que "a nação que vier a liderar a economia da energia limpa, será a nação que virá a liderar a economia global". E a ideia de Obama foi desafiar os Estado Unidos a serem essa nação.
Se tudo isto representa um desafio relativamente recente para os Estados Unidos, já na Europa, o papel das energias limpas e renováveis, enquadrado no combate às alterações climáticas e nas políticas de crescimento económico sustentável, faz parte de uma visão de futuro acalentada há anos por várias organizações e instituições europeias. Mas a esta visão falta ainda a veemência, a ousadia e a ambição de uma liderança forte.
Prova-o o último Conselho Europeu de 4 de Fevereiro que acabou por não abordou as questões decisivas da inovação e da produção de energias limpas, tão importantes para a criação de emprego e para a competitividade da economia europeia.
A próxima oportunidade não pode ser desperdiçada. Cada dia que passa torna as acções necessárias para alcançar uma posição de liderança na economia global mais ousadas e dispendiosas
Penso que os europeus exigem e merecem que, no próximo Conselho Europeu de 24-25 de Março, seja debatido um novo modelo económico de crescimento que coloque a Europa na liderança da terceira revolução industrial e a torne um farol de esperança para todo o mundo no limiar do século 21.