Recentemente, uma famosa companhia aérea anunciou ter realizado um voo de testes bem-sucedido, no qual um dos seus aparelhos percorreu cerca de cem quilómetros alimentado a Combustível Sustentável para a Aviação (SAF). Tratando-se ainda de um pequeno passo, não deixa de ser um marco importante. Não apenas pela tecnologia utilizada, mas, sobretudo, pelo que diz sobre o esforço que está a ser feito por companhias e indústria aeronáutica em geral para se aproximarem rapidamente das metas de redução das emissões de dióxido de carbono.
A luta contra as alterações climáticas é muitas vezes apresentada como uma decisão de “tudo ou nada” onde se tem de escolher um lado: ou a proteção do planeta ou a manutenção da qualidade e do estilo de vida a que nos habituámos. É uma perspetiva errada e, sobretudo ineficaz. Atualmente, o setor da aviação comercial é responsável por cerca de 2,8% das emissões globais de CO2, e estima-se que a procura de voos triplique até 2050. Não será tentando impor comportamentos e boicotes que se terão resultados.
A alternativa – e a filosofia presente, a nível europeu, no European Green Deal, na Lei do Clima e no pacote de medidas Fit-for-55 – é fazer da própria luta contra as alterações climáticas um motor de desenvolvimento económico social. No fundo, continuar a melhorar as nossas vidas ao mesmo tempo que melhoramos a “saúde” do nosso planeta. Por esse motivo, uma transição energética bem-sucedida na aviação comercial terá um peso muito superior ao já de si significativo valor deste setor específico. Será uma prova de que o caminho para o futuro sustentável do nosso planeta, o único caminho, passa pela aposta na capacidade científica e na inovação, massificando as soluções sustentáveis existentes e desenvolvendo outras inteiramente novas.
Mas, como referi, esta é apenas uma das frentes de um grande esforço que está a ser feito. Nomeadamente na União Europeia. Na preparação do atual programa-quadro de Ciência e Inovação, o Horizonte Europa, tive o privilégio de ser relatora pelo Parlamento Europeu de uma nova geração de parcerias com a indústria, cobrindo diversos setores-chave da nossa economia. Uma destas parcerias, intitulada Aviação Limpa, é o maior e mais ambicioso projeto de investigação no setor da aeronáutica alguma vez realizado na União Europeia.
Os investimentos previstos, até 2024, ascendem a 4,1 mil milhões de euros, sendo 1,7 mil milhões assumidos pelo Horizonte Europa e o restante pela indústria.
Os objetivos incluem a redução a zero das emissões de CO2, até 2050, através de tecnologias como o SAF (que combina o combustível tradicional com componentes obtidas de diversas fontes renováveis, tais como óleos vegetais) mas também o hidrogénio e medidas operacionais. Existe ainda uma ambiciosa meta intermédia de reduzir as emissões em 30% até 2030, por comparação com os valores de 2020.
A parceria contempla ainda o desenvolvimento de um novo avião híbrido/elétrico para distâncias até 4000 quilómetros; o desenvolvimento de um avião ultra-eficiente para distâncias curtas e médias; e o desenvolvimento de um avião integralmente alimentado a hidrogénio.
Poderão parecer sonhos irrealizáveis. Mas muitos fizeram a mesma análise antes de, há cerca de 120 anos, em dezembro de 1903, os irmãos Wright terem feito no norte da Califórnia o primeiro voo bem-sucedido de um avião tripulado a motor. Ao longo da história, o que tem feito a humanidade voar tão alto é o seu inconformismo, a sua capacidade para transformar grandes desafios em gigantescos saltos evolutivos.
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