Os últimos anos têm sido férteis em acontecimentos que puseram em causa muitos dos que pensávamos serem pilares intocáveis das economias e sociedades modernas, tais como como a globalização acelerada e a cada vez maior concentração de pessoas, infraestruturas e investimentos nas grandes áreas metropolitanas.
O desafio do combate às alterações climáticas está a levar-nos a contemplar novas formas de conjugarmos o crescimento económico, e a melhoria da qualidade de vida das populações, com uma relação mais equilibrada com o mundo natural. A pandemia de COVID-19, ao forçar-nos a encontrar novas formas de organização do trabalho, nomeadamente recorrendo ao teletrabalho, mostrou-nos que muitas atividades podem ser desempenhadas com eficácia sem a obrigatoriedade da presença física nos tradicionais centros de decisão. A invasão da Ucrânia pela Rússia tem demonstrado a importância de não sermos demasiado dependentes do exterior e a necessidade de apostar na produção local.
Tudo isto me tem levado a defender publicamente que regiões como o Alentejo podem e devem ser encaradas como estratégicas para a atração de novos negócios, atividades e trabalhadores. Nomeadamente nos setores ligados à inovação. A conjugação de custos mais reduzidos face às grandes cidades com a atratividade de uma vivência mais tranquila e mais próxima da natureza, podem motivar muitas empresas e cidadãos a arriscarem a mudança. Isto, desde que lhe sejam garantidas as condições mínimas ao nível de recursos como estradas e ferrovias, serviços de saúde e de educação ou o acesso à Internet de Alta Velocidade.
Tradicionalmente, a falta de investimento nestes recursos tem sido o principal obstáculo ao desenvolvimento do Alentejo, porque é mais complexo atrair fundos – públicos e privados – para regiões que vêm desde há muito tempo a perder atividades económicas e população.
O novo ciclo de fundos europeus surge com uma novidade que poderá quebrar este ciclo vicioso. O hub de Sines está a ser encarado como uma grande prioridade estratégica do país. Mas é preciso que este seja de facto um motor de desenvolvimento para todo o Alentejo, e não apenas mais um “elefante branco” onde se vão concentrar muitos recursos, deixando de dar resposta aos problemas crónicos da maior região de Portugal.
Sem uma boa execução do Plano de Recuperação e Resiliência e do Programa Portugal 2030, uma execução que permita melhorar infraestruturas, modernizar a atividade económica e valorizar o conhecimento, nomeadamente o conhecimento produzido nas instituições do ensino superior da região, os projetos de Sines de pouco servirão ao resto do Alentejo.
O desafio será, por isso, criar uma estratégia estendendo-se a todo o Alentejo, Litoral e Interior, abrangendo diferentes setores de grande potencial, como a energia e os dados, mas também o turismo, a agricultura e a indústria alimentar em geral.